25 fevereiro 2007

Supertipo Veloz, de Joan Trochut-Blanchart

Um tipo rigorosamente integral



O tipógrafo e impressor catalão Joan Trochut-Blanchart (1920-1980) de
senhou o Supertipo Veloz, um dos trabalhos mais importantes na tipografia do difícil pós-guerra espanhol. Trata-se se um sistema tipográfico modular, que ajudaria a optimizar o trabalho diário do pequeno impressor.

Nas oficinas de impressão dos finais do século XIX era costume, com a ajuda de uma lima e de um cinzel, a modificação dos caracteres de chumbo por parte dos tipógrafos, para conseguir uma certa originalidade que fosse além dos tipos da fundição.

Provavelmente devido a estas manipulações caseiras, e por influência das vanguardas europeias, foram comercializados nos anos vinte tipos de chumbo com formas geométricas combináveis. Círculos, quadrados e triângulos, serviam para compor, ainda que toscamente, alfabetos de raiz, logotipos, títulos ou grafismos decorativos.


Catálogo «Figuras geométricas», produzido e comercializado no
início dos anos trinta pela Fundición Tipografica Iranzo.

Com o desenvolvimento da publicidade e a crescente procura de material impresso, os pequenos impressores desta época empobrecida viram-se com falta de recursos para resolv
er os trabalhos encomendados com originalidade. Entre estes profissionais, estava um reputado impressor francês estabelecido em Barcelona, Esteban Trochut Bachmann, pai de Joan Trochut. Disposto a contribuir para a melhoria da qualidade da pequena impressão, Esteban Trochut editou uma série de álbuns onde pôs em prática a sua visão pessoal de entender e utilizar a tipografia, os ADAM.

Nos álbuns ADAM (Arquivo Documentário de Arte Moderna), publicados em castelhano e francês, apontavam a letra como principal elemento decorativo e foram concebidos, nas palavras do próprio editor, «para o estudo e a modernização racional da arte tipográfica». Eram autênticos manuais práticos sobre tipografia, contendo também vários textos de Esteban e Joan Trochut, tal como como nos álbuns posteriores NOVADAM, sobre a prática da profissão com o objectivo de estimular e promover o uso criativo da tipografia entre os profissionais.


Capas dos dois primeiros álbuns ADAM

Consciente da necessidade obter originalidade a baixo custo na produção de pequenas impressões e tendo em conta os tipos geométricos que ainda se usavam nas oficinas da época, Joan Trochut trabalhou na ideia de criar um sistema tipográfico que pudesse ser utilizado tanto para a composição de textos como para a construção de tipos de letra (alfabetos) que, por sua vez, as mesmas formas servissem como recurso para ilustrar.


Páginas dos álbuns NOVADAM, exemplificando usos do Super-Veloz, em tipografia e ilustração

Produzido em 1942 pela Fundición Tipografica Iranzo (Barcelona), o Super-Veloz de Joan Trochut era uma colecção de tipos combináveis desenhados «para satisfazer as necessidades da tipografia publicitária e decorativa», tal como se descreve no seu catálogo de apresentação.

Trochut descreve o seu sistema tipográfico c
omo um «tipo rigorosamente integral». Parte do conceito do módulo que deu origem à tipografia e constrói um sistema de elementos combináveis. Com o Super Veloz a peça de chumbo não faz referência a um caracter mas a uma parte dele. Distintos caracteres (e alfabetos) podem construir-se com a combinação das diferentes peças do Super-Veloz: «rasgos» ou elementos secundários que se juntam aos «troncos» ou elementos principais, tendo como resultado uma infinidade de possibilidades formais. A versatilidade deste sistema permitiu aos impressores desenvolver alfabetos, desenhar logotipos e marcas comerciais sem as limitações próprias dos tipos de chumbo.

As quatro colecções do Super-Veloz, a última de 1956

Esteban e Joan Trochut, editarão quatro novos álbuns
– os NOVADAM – entre 1936 e 1952. Neles incluem-se exemplos de aplicações com as tipografias de Joan: papelaria comercial, marcas, anúncios, ex-libris, ilustrações, diferentes alfabetos, etc. Desde o segundo álbum publicado em 1942 e o último em 1952, os Trochut divulgam o uso do Super-Veloz. São como um manifesto tipográfico dos Trochut. A teoria e prática de uma solução tipográfica que deve entendida e encontra o seu sentido nos duros anos quarenta do pós-guerra espanhol.


Alfabetos realizados com o Super-Veloz, publicados nos álbuns NOVADAM III e IV

Da primeira colecção de catorze peças (1942), à quarta colecção que completava um conjunto de quarenta peças (1952), o SuperVeloz veio como uma eficaz alternativ
a para o pequeno impressor. A empobrecida indústria gráfica do pós-guerra aceitou de braços abertos esta experiência vanguardista, contudo funcional, que permitia uma grande diversidade gráfica a custos modestos, contribuindo para tornar quotidiana a vanguarda modernista.


Peças utilizadas para realizar algumas ilustrações, no NOVADAM IV

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