
O tipógrafo e impressor catalão Joan Trochut-Blanchart (1920-1980) desenhou o Supertipo Veloz, um dos trabalhos mais importantes na tipografia do difícil pós-guerra espanhol. Trata-se se um sistema tipográfico modular, que ajudaria a optimizar o trabalho diário do pequeno impressor.
Nas oficinas de impressão dos finais do século XIX era costume, com a ajuda de uma lima e de um cinzel, a modificação dos caracteres de chumbo por parte dos tipógrafos, para conseguir uma certa originalidade que fosse além dos tipos da fundição.
Provavelmente devido a estas manipulações caseiras, e por influência das vanguardas europeias, foram comercializados nos anos vinte tipos de chumbo com formas geométricas combináveis. Círculos, quadrados e triângulos, serviam para compor, ainda que toscamente, alfabetos de raiz, logotipos, títulos ou grafismos decorativos.

Catálogo «Figuras geométricas», produzido e comercializado no início dos anos trinta pela Fundición Tipografica Iranzo.
Com o desenvolvimento da publicidade e a crescente procura de material impresso, os pequenos impressores desta época empobrecida viram-se com falta de recursos para resolver os trabalhos encomendados com originalidade. Entre estes profissionais, estava um reputado impressor francês estabelecido em Barcelona, Esteban Trochut Bachmann, pai de Joan Trochut. Disposto a contribuir para a melhoria da qualidade da pequena impressão, Esteban Trochut editou uma série de álbuns onde pôs em prática a sua visão pessoal de entender e utilizar a tipografia, os ADAM.
Nos álbuns ADAM (Arquivo Documentário de Arte Moderna), publicados em castelhano e francês, apontavam a letra como principal elemento decorativo e foram concebidos, nas palavras do próprio editor, «para o estudo e a modernização racional da arte tipográfica». Eram autênticos manuais práticos sobre tipografia, contendo também vários textos de Esteban e Joan Trochut, tal como como nos álbuns posteriores NOVADAM, sobre a prática da profissão com o objectivo de estimular e promover o uso criativo da tipografia entre os profissionais.

Capas dos dois primeiros álbuns ADAM
Consciente da necessidade obter originalidade a baixo custo na produção de pequenas impressões e tendo em conta os tipos geométricos que ainda se usavam nas oficinas da época, Joan Trochut trabalhou na ideia de criar um sistema tipográfico que pudesse ser utilizado tanto para a composição de textos como para a construção de tipos de letra (alfabetos) que, por sua vez, as mesmas formas servissem como recurso para ilustrar.

Páginas dos álbuns NOVADAM, exemplificando usos do Super-Veloz, em tipografia e ilustração
Produzido em 1942 pela Fundición Tipografica Iranzo (Barcelona), o Super-Veloz de Joan Trochut era uma colecção de tipos combináveis desenhados «para satisfazer as necessidades da tipografia publicitária e decorativa», tal como se descreve no seu catálogo de apresentação.
Trochut descreve o seu sistema tipográfico como um «tipo rigorosamente integral». Parte do conceito do módulo que deu origem à tipografia e constrói um sistema de elementos combináveis. Com o Super Veloz a peça de chumbo não faz referência a um caracter mas a uma parte dele. Distintos caracteres (e alfabetos) podem construir-se com a combinação das diferentes peças do Super-Veloz: «rasgos» ou elementos secundários que se juntam aos «troncos» ou elementos principais, tendo como resultado uma infinidade de possibilidades formais. A versatilidade deste sistema permitiu aos impressores desenvolver alfabetos, desenhar logotipos e marcas comerciais sem as limitações próprias dos tipos de chumbo.

As quatro colecções do Super-Veloz, a última de 1956
Esteban e Joan Trochut, editarão quatro novos álbuns – os NOVADAM – entre 1936 e 1952. Neles incluem-se exemplos de aplicações com as tipografias de Joan: papelaria comercial, marcas, anúncios, ex-libris, ilustrações, diferentes alfabetos, etc. Desde o segundo álbum publicado em 1942 e o último em 1952, os Trochut divulgam o uso do Super-Veloz. São como um manifesto tipográfico dos Trochut. A teoria e prática de uma solução tipográfica que deve entendida e encontra o seu sentido nos duros anos quarenta do pós-guerra espanhol.

Alfabetos realizados com o Super-Veloz, publicados nos álbuns NOVADAM III e IV
Da primeira colecção de catorze peças (1942), à quarta colecção que completava um conjunto de quarenta peças (1952), o SuperVeloz veio como uma eficaz alternativa para o pequeno impressor. A empobrecida indústria gráfica do pós-guerra aceitou de braços abertos esta experiência vanguardista, contudo funcional, que permitia uma grande diversidade gráfica a custos modestos, contribuindo para tornar quotidiana a vanguarda modernista.

Peças utilizadas para realizar algumas ilustrações, no NOVADAM IV
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